Histórias da CART 3503

Para denunciarmos, para perdoarmos, mas para jamais esquecermos!

quinta-feira, 12 de abril de 2007 | 01:43

Prefácio

De Penafiel a Mueda, do Tejo ao Rovuma, do lar ao fim-do-mundo, da inocência ao inferno se fez a história da Companhia de Artilharia 3503.

Cada um dos seus homens tem muitas histórias para contar, trazem-nas consigo há muitos anos; alguns querem guardá-las em silêncio consigo, como algo de íntimo e intransmissível, por acharem que uma vez verbalizadas se tornariam banais, e os sentimentos que lhes estão associadas desbaratados por quem não sabe o que significou negociar com a Morte dia-a-dia de arma na mão. Hoje as guerras são espectáculo de fogo-de-artifício, em directo na televisão, que é visto à hora do jantar no recato do lar, como qualquer reality-show, e a comparação da guerra que conhecemos com esse espectáculo seria degradante para as nossas memórias. É por isso que devemos respeitar os que optam pelo silêncio.

Este blog foi criado para os que não optaram pelo silêncio. Nele caberão todas as palavras que os veteranos da Cart 3503 ainda trazem consigo, mas não tenhamos ilusões; as palavras não são os factos e nem sequer os sentimentos; são apenas códigos de comunicação com que temos a ilusão de dizer a verdade, e não haverá dois de nós a dizer a mesma coisa do mesmo modo. É por isso que devemos respeitar os que optam por dizer o que pensam.

Outros, por ventura, optarão por retratar os sentimentos, assumindo a inutilidade de tentar repetir a realidade, aceitando o papel da memória que umas vezes censura outras vezes interpreta a informação modificando-a; a ilusão aqui não é menor, é apenas assumida. É por isso que devemos respeitar os que optam pela ficção ou pela poesia.

Foram repostos os textos do Silvestre, do Caseiro e do Almeida que eu já tinha publicado no meu blog "Outros Testemunhos", bem assim como os comentários dos visitantes.

Para agilizar a publicação dos textos e para garantir alguma organização, encarregar-me-ei de administrar o blog, garantindo que não existirá qualquer censura ou truncagem do que me for enviado para publicação.

Só não haverá lugar à calúnia, à pornografia e à mentira maldosa; porém a indignação, a sensualidade e a fantasia serão bem-vindas; que nenhuma palavra até hoje reprimida fique por dizer, nenhuma acusação justa por fazer, e que o perdão, que é a vingança dos magnânimos, seja a prova da nossa superioridade moral.

Houve uma guerra. Nós lutámos lá; nós morremos e matámos lá.

Para denunciarmos, para perdoarmos, mas para jamais esquecermos!

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1 Comentários:

Blogger FURRIEL DIAS disse...

Olá camarada de armas.
Estou de acordo com o prefácio,e para acrescentar ao que nele vem escrito digo o seguinte:
Passados estes anos todos e nós os ex combatentes ,sentimos um nó na nossa garganta, quando pensamos nessa maldita guerra.
Eu graças a Deus não me considero dos piores traumatizados ,mas sei que preciso de momentos destes, de comentar vários blogs da guerra colonial, para desanuviar o que vai cá dentro de mim.
Um grande abraço para todos os ex combatentes.
FURR.MIL.DIAS C.CAÇ-4153

8 de maio de 2010 às 12:25  

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